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Texto do início do ano, quando eu tinha as maiores dúvidas do mundo e agora, bom, agora eu desisti das dúvidas.
W5 sul: meu destino durante 1 ano e meio, agora não sei nem qual estrada eu vou pegar.
Sinto como se estivesse numa via completamente congestionada e impossível de se trafegar, além de não saber onde ela termina. Uma desordem completa e meu carro vai perdendo a gasolina lentamente, enquanto mantenho as mãos geladas no volante/câmbio, os pés cansados na embreagem, acelerador/freio e observo atentamente todos os movimentos ao meu redor.
Eu olho para o céu e vejo os aviões: livres, certeiros, "descomplicados" (mesmo com o caos aéreo, quando eles estão lá em cima tudo parece diferente). Seguindo um rumo que aparenta levar somente à felicidade nuvens adentro, em direção ao sol ou quem sabe, a uma cidade maravilhosa.
Passa por mim um motoqueiro louco e inconsequente, que corre contra o tempo e ultrapassa velozmente os carros parados para chegar aonde precisa sem medir esforços podendo custar-lhe a própria vida. Ele sente a adrenalina em seu sangue, sabe que está errado mas não tem escolha. Precisa chegar ao seu destino (pelo menos ele sabe qual é) antes do fim do prazo. Ele vai, sente-se vivo, eu fico.
Ah, mas o melhor mesmo é o ciclista! Que pedala lentamente na calçada a pouco mais de dois metros de mim! Ouvindo as melhores músicas em seu ipod, trabalhando seu corpo e sua mente, completamente distraído em seu caminho, mas sabendo exatamente aonde deve/quer chegar; sentindo a brisa fraca em seu rosto e iluminado pelos raios de sol que vão se esvaindo, carrega tudo que precisa em uma pequena mochila.
Eu o invejo.
Invejo o fato dele saber aonde vai, invejo o caminho dele estar livre e o meu não. Invejo todas as músicas que ele ouve, que com certeza são as que eu queria escutar e escutei outrora! Porém, são abafadas pelas buzinas que agora escuto vezenquando - não que fossem por minha causa (talvez até fossem e nunca vou descobrir).
Invejo sua distração porque ela não o impede de pedalar em ritmos alternados, sentindo a batida do seu coração - tumtumtumtum tum tum tumtum - elevando sua mente à um estágio subliminar; mantendo seu corpo são, cansado aos poucos mas firme, saudável - eu adoeço.
Invejo a brisa que ele sente porque meu carro está abafado mesmo com as janelas abertas: me sinto sufocar. Invejo sua pele bronzeada pelos raios de sol! Ah, os raios de sol... - minha pele apática e opaca não os sentem há mais tempo do que podia imaginar.
Invejo tudo que ele carrega em sua mochila e a própria! Porque meu carro está uma bagunça, cheio de tralhas desnecessárias e não consigo encontrar nada além daquilo que não quero mais e não posso arremessar janela à fora: minha dor, minha solidão, meu sedentarismo, minha insônia, minha amargura, minha saudade, meu medo, meu fingimento, minha inveja e principalmente, minha covardia.
Covardia porque apesar de invejar tanto o ciclista, não sei se consigo ter coragem para desviar minha rota, parar numa loja e comprar uma bicicleta! Há muito não pedalo e tenho medo de cair, ralar os joelhos como aos seis anos de idade, quando sorridente e despreocupada, descia a rua pelas primeiras vezes sozinha e sem as duas pequenas rodinhas - antes eu era corajosa, agora... e agora?
O ciclista está se distanciando nesse instante, sua simplicidade me parece complexa e longe, algo praticamente inatingível para alguém como eu.
Ao vê-lo partir, sinto que ainda tenho a esperança miúda, quente e irradiante de que um dia, não tarde demais, eu poderei me locomover como ele seja em uma bicicleta, numa moto, num avião ou mesmo aqui, no meu carro.
Respiro, piso na embreagem, engato a primeira, acelero, freio, paro. Continuo parada no congestionamento da minha vida.
Eu quero e preciso ser como o ciclista.
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Texto do início do ano, quando eu tinha as maiores dúvidas do mundo e agora, bom, agora eu desisti das dúvidas.
W5 sul: meu destino durante 1 ano e meio, agora não sei nem qual estrada eu vou pegar.
Sinto como se estivesse numa via completamente congestionada e impossível de se trafegar, além de não saber onde ela termina. Uma desordem completa e meu carro vai perdendo a gasolina lentamente, enquanto mantenho as mãos geladas no volante/câmbio, os pés cansados na embreagem, acelerador/freio e observo atentamente todos os movimentos ao meu redor.
Eu olho para o céu e vejo os aviões: livres, certeiros, "descomplicados" (mesmo com o caos aéreo, quando eles estão lá em cima tudo parece diferente). Seguindo um rumo que aparenta levar somente à felicidade nuvens adentro, em direção ao sol ou quem sabe, a uma cidade maravilhosa.
Passa por mim um motoqueiro louco e inconsequente, que corre contra o tempo e ultrapassa velozmente os carros parados para chegar aonde precisa sem medir esforços podendo custar-lhe a própria vida. Ele sente a adrenalina em seu sangue, sabe que está errado mas não tem escolha. Precisa chegar ao seu destino (pelo menos ele sabe qual é) antes do fim do prazo. Ele vai, sente-se vivo, eu fico.
Ah, mas o melhor mesmo é o ciclista! Que pedala lentamente na calçada a pouco mais de dois metros de mim! Ouvindo as melhores músicas em seu ipod, trabalhando seu corpo e sua mente, completamente distraído em seu caminho, mas sabendo exatamente aonde deve/quer chegar; sentindo a brisa fraca em seu rosto e iluminado pelos raios de sol que vão se esvaindo, carrega tudo que precisa em uma pequena mochila.
Eu o invejo.
Invejo o fato dele saber aonde vai, invejo o caminho dele estar livre e o meu não. Invejo todas as músicas que ele ouve, que com certeza são as que eu queria escutar e escutei outrora! Porém, são abafadas pelas buzinas que agora escuto vezenquando - não que fossem por minha causa (talvez até fossem e nunca vou descobrir).
Invejo sua distração porque ela não o impede de pedalar em ritmos alternados, sentindo a batida do seu coração - tumtumtumtum tum tum tumtum - elevando sua mente à um estágio subliminar; mantendo seu corpo são, cansado aos poucos mas firme, saudável - eu adoeço.
Invejo a brisa que ele sente porque meu carro está abafado mesmo com as janelas abertas: me sinto sufocar. Invejo sua pele bronzeada pelos raios de sol! Ah, os raios de sol... - minha pele apática e opaca não os sentem há mais tempo do que podia imaginar.
Invejo tudo que ele carrega em sua mochila e a própria! Porque meu carro está uma bagunça, cheio de tralhas desnecessárias e não consigo encontrar nada além daquilo que não quero mais e não posso arremessar janela à fora: minha dor, minha solidão, meu sedentarismo, minha insônia, minha amargura, minha saudade, meu medo, meu fingimento, minha inveja e principalmente, minha covardia.
Covardia porque apesar de invejar tanto o ciclista, não sei se consigo ter coragem para desviar minha rota, parar numa loja e comprar uma bicicleta! Há muito não pedalo e tenho medo de cair, ralar os joelhos como aos seis anos de idade, quando sorridente e despreocupada, descia a rua pelas primeiras vezes sozinha e sem as duas pequenas rodinhas - antes eu era corajosa, agora... e agora?
O ciclista está se distanciando nesse instante, sua simplicidade me parece complexa e longe, algo praticamente inatingível para alguém como eu.
Ao vê-lo partir, sinto que ainda tenho a esperança miúda, quente e irradiante de que um dia, não tarde demais, eu poderei me locomover como ele seja em uma bicicleta, numa moto, num avião ou mesmo aqui, no meu carro.
Respiro, piso na embreagem, engato a primeira, acelero, freio, paro. Continuo parada no congestionamento da minha vida.
Eu quero e preciso ser como o ciclista.
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