domingo, 24 de agosto de 2008

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tão clichê quanto o sol, inesperado como chuva em agosto.
sabe tudo e não sabe nada, me (des)conserta.

o mundo pára.


tudo que eu sinto, que eu vejo, eu busco. te busco

pra mim]

o mundo volta a girar.


eu paro, não me desespero,

certa que você é a minha certeza.

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"till the ocean
Is folded and hung up to dry..."

W. H. Auden

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segunda-feira, 18 de agosto de 2008

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não acho que existe mais o certo e o errado.

não, acho que existe o diferente e de diversas maneiras.

a minha alegria não é a sua, minha tristeza idem.
nem por isso elas são mais ou menos importantes.

o tempo passa devagar quando eu estou só.

e pelo jeito que minhas mãos tremiam,
e pelo jeito que minhas palavras ainda são desperdiçadas no papel,
eu preferia ter gastado todo esse tempo com você.

misturo tudo até me perder.
me viro do avesso até me esquecer.
e eu esqueço.

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sábado, 26 de julho de 2008

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"When a dream takes hold of you, what can you do? You can run with it, let it run your life, or let it go and think for the rest of your life about what might have been."

— Patch Adams, M.D.



Começo sempre demandará mudança. E a partir de agora, começo uma novíssima etapa. Que seja bem-vinda porque tenho certeza, além das mudanças, esse começo liquidará boa parte de qualquer obrigação, pelo simples fato de saber aonde quero chegar.

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sexta-feira, 4 de julho de 2008

O Espelho - João Guimarães Rosa

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Se quer seguir-me, narro-lhe; não uma aventura, mas experiência, a que me induziram, alternadamente, séries de raciocínios e intuições. Tomou-me tempo, desânimos, esforços. Dela me prezo, sem vangloriar-me. Surpreendo-me, porém, um tanto à-parte de todos, penetrando conhecimento que os outros ainda ignoram. O senhor, por exemplo, que sabe e estuda, suponho nem tenha idéia do que seja na verdade — um espelho? Demais, decerto, das noções de física, com que se familiarizou, as leis da óptica. Reporto-me ao transcendente. Tudo, aliás, é a ponta de um mistério. Inclusive, os fatos. Ou a ausência deles. Duvida? Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo.

Fixemo-nos no concreto. O espelho, são muitos, captando-lhe as feições; todos refletem-lhe o rosto, e o senhor crê-se com aspecto próprio e praticamente imudado, do qual lhe dão imagem fiel. Mas — que espelho? Há-os «bons» e «maus», os que favorecem e os que detraem; e os que são apenas honestos, pois não. E onde situar o nível e ponto dessa honestidade ou fidedignidade? Como é que o senhor, eu, os restantes próximos, somos, no visível? O senhor dirá: as fotografias o comprovam. Respondo: que, além de prevalecerem para as lentes das máquinas objeções análogas, seus resultados apóiam antes que desmentem a minha tese, tanto revelam superporem-se aos dados iconográficos os índices do misterioso. Ainda que tirados de imediato um após outro, os retratos sempre serão entre si muito diferentes. Se nunca atentou nisso, é porque vivemos, de modo incorrigível, distraídos das coisas mais importantes. E as máscaras, moldadas nos rostos? Valem, grosso modo, para o falquejo das formas, não para o explodir da expressão, o dinamismo fisionômico. Não se esqueça, é de fenômenos sutis que estamos tratando.

Resta-lhe argumento: qualquer pessoa pode, a um tempo, ver o rosto de outra e sua reflexão no espelho. Sem sofisma, refuto-o. O experimento, por sinal ainda não realizado com rigor, careceria de valor científico, em vista das irredutíveis deformações, de ordem psicológica. Tente, aliás, fazê-lo, e terá notáveis surpresas. Além de que a simultaneidade torna-se impossível, no fluir de valores instantâneos. Ah, o tempo é o mágico de todas as traições... E os próprios olhos, de cada um de nós, padecem viciação de origem, defeitos com que cresceram e a que se afizeram, mais e mais. Por começo, a criancinha vê os objetos invertidos, daí seu desajeitado tactear; só a pouco e pouco é que consegue retificar, sobre a postura dos volumes externos, uma precária visão. Subsistem, porém, outras pechas, e mais graves. Os olhos, por enquanto, são a porta do engano; duvide deles, dos seus, não de mim. Ah, meu amigo, a espécie humana peleja para impor ao latejante mundo um pouco de rotina e lógica, mas algo ou alguém de tudo faz frincha para rir-se da gente... E então?

Note que meus reparos limitam-se ao capítulo dos espelhos planos, de uso comum. E os demais — côncavos, convexos, parabólicos — além da possibilidade de outros, não descobertos, apenas, ainda? Um espelho, por exemplo, tetra ou quadridimensional? Parece-me não absurda, a hipótese. Matemáticos especializados, depois de mental adestramento, vieram a construir objetos a quatro dimensões, para isso utilizando pequenos cubos, de várias cores, como esses com que os meninos brincam. Duvida?

Vejo que começa a descontar um pouco de sua inicial desconfiança, quanto ao meu são juízo. Fiquemos, porém, no terra-a-terra. Rimo-nos, nas barracas de diversões, daqueles caricatos espelhos, que nos reduzem a mostrengos, esticados ou globosos. Mas, se só usamos os planos — e nas curvas de um bule tem-se sofrível espelho convexo, e numa colher brunida um côncavo razoável — deve-se a que primeiro a humanidade mirou-se nas superfícies de água quieta, lagoas, lameiros, fontes, delas aprendendo a fazer tais utensílios de metal ou cristal. Tirésias, contudo, já havia predito ao belo Narciso que ele viveria apenas enquanto a si mesmo não se visse... Sim, são para se ter medo, os espelhos.

Temi-os, desde menino, por instintiva suspeita. Também os animais negam-se a encará-los, salvo as críveis excepções. Sou do interior, o senhor também; na nossa terra, diz-se que nunca se deve olhar em espelho às horas mortas da noite, estando-se sozinho. Porque, neles, às vezes, em lugar de nossa imagem, assombra-nos alguma outra e medonha visão. Sou, porém, positivo, um racional, piso o chão a pés e patas. Satisfazer-me com fantásticas não-explicações? — jamais. Que amedrontadora visão seria então aquela? Quem o Monstro?

Sendo talvez meu medo a revivescência de impressões atávicas? O espelho inspirava receio supersticioso aos primitivos, aqueles povos com a idéia de que o reflexo de uma pessoa fosse a alma. Via de regra, sabe-o o senhor, é a superstição fecundo ponto de partida para a pesquisa. A alma do espelho — anote-a — esplêndida metáfora. Outros, aliás, identificavam a alma com a sombra do corpo; e não lhe terá escapado a polarização: luz—treva. Não se costumava tapar os espelhos, ou voltá-los contra a parede, quando morria alguém da casa? Se, além de os utilizarem nos manejos da magia, imitativa ou simpática, videntes serviam-se deles, como da bola de cristal, vislumbrando em seu campo esboços de futuros fatos, não será porque, através dos espelhos, parece que o tempo muda de direção e de velocidade? Alongo-me, porém. Contava-lhe...

— Foi num lavatório de edifício público, por acaso. Eu era moço, comigo contente, vaidoso. Descuidado, avistei... Explico-lhe: dois espelhos — um de parede, o outro de porta lateral, aberta em ângulo propício — faziam jogo. E o que enxerguei, por instante, foi uma figura, perfil humano, desagradável ao derradeiro grau, repulsivo senão hediondo. Deu-me náusea, aquele homem, causava-me ódio e susto, eriçamento, espavor. E era — logo descobri... era eu, mesmo! O senhor acha que eu algum dia ia esquecer essa revelação?

Desde aí, comecei a procurar-me — ao eu por detrás de mim — à tona dos espelhos, em sua lisa, funda lâmina, em seu lume frio. Isso, que se saiba, antes ninguém tentara. Quem se olha em espelho, o faz partindo de preconceito afetivo, de um mais ou menos falaz pressuposto: ninguém se acha na verdade feio: quando muito, em certos momentos, desgostamo-nos por provisoriamente discrepantes de um ideal estético já aceito. Sou claro? O que se busca, então, é verificar, acertar, trabalhar um modelo subjetivo, preexistente; enfim, ampliar o ilusório, mediante sucessivas novas capas de ilusão. Eu, porém, era um perquiridor imparcial, neutro absolutamente. O caçador de meu próprio aspecto formal, movido por curiosidade, quando não impessoal, desinteressada; para não dizer o urgir científico. Levei meses.

Sim, instrutivos. Operava com toda a sorte de astúcias: o rapidíssimo relance, os golpes de esguelha, a longa obliqüidade apurada, as contra-surpresas, a finta de pálpebras, a tocaia com a luz de-repente acesa, os ângulos variados incessantemente. Sobretudo, uma inembotável paciência. Mirava-me, também, em marcados momentos — de ira, medo, orgulho abatido ou dilatado, extrema alegria ou tristeza. Sobreabriam-se-me enigmas. Se, por exemplo, em estado de ódio, o senhor enfrenta objetivamente a sua imagem, o ódio reflui e recrudesce, em tremendas multiplicações: e o senhor vê, então, que, de fato, só se odeia é a si mesmo. Olhos contra os olhos. Soube-o: os olhos da gente não têm fim. Só eles paravam imutáveis, no centro do segredo. Se é que de mim não zombassem, para lá de uma máscara. Porque, o resto, o rosto, mudava permanentemente. O senhor, como os demais, não vê que seu rosto é apenas um movimento deceptivo, constante. Não vê, porque mal advertido, avezado; diria eu: ainda adormecido, sem desenvolver sequer as mais necessárias novas percepções. Não vê, como também não se vêem, no comum, os movimentos translativo e rotatório deste planeta Terra, sobre que os seus e os meus pés assentam. Se quiser, não me desculpe; mas o senhor me compreende.

Sendo assim, necessitava eu de transverberar o embuço, a travisagem daquela máscara, a fito de devassar o núcleo dessa nebulosa — a minha vera forma. Tinha de haver um jeito. Meditei-o. Assistiram-me seguras inspirações.

Concluí que, interpenetrando-se no disfarce do rosto externo diversas componentes, meu problema seria o de submetê-las a um bloqueio “visual” ou anulamento perceptivo, a suspensão de uma por uma, desde as mais rudimentares, grosseiras, ou de inferior significado. Tomei o elemento animal, para começo.

Parecer-se cada um de nós com determinado bicho, relembrar seu facies, é fato. Constato-o, apenas; longe de mim puxar à bimbalha temas de metempsicose ou teorias biogenéticas. De um mestre, aliás, na ciência de Lavater, eu me inteirara no assunto. Que acha? Com caras e cabeças ovinas ou eqüinas, por exemplo, basta-lhe relancear a multidão ou atentar nos conhecidos, para reconhecer que os há, muitos. Meu sósia inferior na escala era, porém — a onça. Confirmei-me disso. E, então, eu teria que, após dissociá-los meticulosamente, aprender a não ver, no espelho, os traços que em mim recordavam o grande felino. Atirei-me a tanto.

Releve-me não detalhar o método ou métodos de que me vali, e que revezavam a mais buscante análise e o estrênuo vigor de abstração. Mesmo as etapas preparatórias dariam para aterrar a quem menos pronto ao árduo. Como todo homem culto, o senhor não desconhece a Ioga, e já a terá praticado, quando não seja, em suas mais elementares técnicas. E, os “exercícios espirituais” dos jesuítas, sei de filósofos e pensadores incréus que os cultivam, para aprofundarem-se na capacidade de concentração, de par com a imaginação criadora... Enfim, não lhe oculto haver recorrido a meios um tanto empíricos: gradações de luzes, lâmpadas coloridas, pomadas fosforescentes na obscuridade. Só a uma expediência me recusei, por medíocre senão falseadora, a de empregar outras substâncias no aço e estanhagem dos espelhos. Mas, era principalmente no modus de focar, na visão parcialmente alheada, que eu tinha de agilitar-me: olhar não-vendo.. Sem ver o que, em meu rosto, não passava de reliquat bestial. Ia-o conseguindo?

Saiba que eu perseguia uma realidade experimental, não uma hipótese imaginária. E digo-lhe que nessa operação fazia reais progressos. Pouco a pouco, no campo-de-vista do espelho, minha figura reproduzia-se-me lacunar, com atenuadas, quase apagadas de todo, aquelas partes excrescentes. Prossegui. Já aí, porém, decidindo-me a tratar simultaneamente as outras componentes, contingentes e ilusivas. Assim, o elemento hereditário — as parecenças com os pais e avós — que são também, nos nossos rostos, um lastro evolutivo residual. Ah, meu amigo, nem no ovo o pinto está intacto. E, em seguida, o que se deveria ao contágio das paixões, manifestadas ou latentes, o que ressaltava das desordenadas pressões psicológicas transitórias. E, ainda, o que, em nossas caras, materializa idéias e sugestões de outrem; e os efêmeros interesses, sem seqüência nem antecedência, sem conexões nem fundura. Careceríamos de dias, para explicar-lhe. Prefiro que tome minhas afirmações por seu valor nominal.

À medida que trabalhava com maior mestria, no excluir, abstrair e abstrar, meu esquema perspectivo clivava-se, em forma meândrica, a modos de couve-flor ou bucho de boi, e em mosaicos, e francamente cavernoso, como uma esponja. E escurecia-se. Por aí, não obstante os cuidados com a saúde, comecei a sofrer dores de cabeça. Será que me acovardei, sem menos? Perdoe-me, o senhor, o constrangimento, ao ter de mudar de tom para confidência tão humana, em nota de fraqueza inesperada e indigna. Lembre-se, porém, de Terêncio. Sim, os antigos; acudiu-me que representavam justamente com um espelho, rodeado de uma serpente, a Prudência, como divindade alegórica. De golpe, abandonei a investigação. Deixei, mesmo, por meses, de me olhar em qualquer espelho.

Mas, com o comum correr quotidiano, a gente se aquieta, esquece-se de muito. O tempo, em longo trecho, é sempre tranqüilo. E pode ser, não menos, que encoberta curiosidade me picasse. Um dia... Desculpe-me, não viso a efeitos de ficcionista, inflectindo de propósito, em agudo, as situações. Simplesmente lhe digo que me olhei num espelho e não me vi. Não vi nada. Só o campo, liso, às vácuas, aberto como o sol, água limpíssima, à dispersão da luz, tapadamente tudo. Eu não tinha formas, rosto? Apalpei-me, em muito. Mas, o invisto. O ficto. O sem evidência física. Eu era — o transparente contemplador?... Tirei-me. Aturdi-me, a ponto de me deixar cair numa poltrona.

Com que, então, durante aqueles meses de repouso, a faculdade, antes buscada, por si em mim se exercitara! Para sempre? Voltei a querer encarar-me. Nada. E, o que tomadamente me estarreceu: eu não via os meus olhos. No brilhante e polido nada, não se me espelhavam nem eles!

Tanto dito que, partindo para uma figura gradualmente simplificada, despojara-me, ao termo, até à total desfigura. E a terrível conclusão: não haveria em mim uma existência central, pessoal, autônoma? Seria eu um... desalmado? Então, o que se me fingia de um suposto eu, não era mais que, sobre a persistência do animal, um pouco de herança, de soltos instintos, energia passional estranha, um entrecruzar-se de influências, e tudo o mais que na impermanência se indefine? Diziam-me isso os raios luminosos e a face vazia do espelho — com rigorosa infidelidade. E, seria assim, com todos? Seríamos não muito mais que as crianças — o espírito do viver não passando de ímpetos espasmódicos, relampejados entre miragens: a esperança e a memória.

Mas, o senhor estará achando que desvario e desoriento-me, confundindo o físico, o hiperfísico e o transfísico, fora do menor equilíbrio de raciocínio ou alinhamento lógico — na conta agora caio. Estará pensando que, do que eu disse, nada se acerta, nada prova nada. Mesmo que tudo fosse verdade, não seria mais que reles obsessão auto-sugestiva, e o despropósito de pretender que psiquismo ou alma se retratassem em espelho...

Dou-lhe razão. Há, porém, que sou um mau contador, precipitando-me às ilações antes dos fatos, e, pois: pondo os bois atrás do carro e os chifres depois dos bois. Releve-me. E deixe que o final de meu capítulo traga luzes ao até agora aventado, canhestra e antecipadamente.

São sucessos muito de ordem íntima, de caráter assaz esquisito. Narro-os, sob palavra, sob segredo. Pejo-me. Tenho de demais resumi-los.

Pois foi que, mais tarde, anos, ao fim de uma ocasião de sofrimentos grandes, de novo me defrontei — não rosto a rosto. O espelho mostrou-me. Ouça. Por um certo tempo, nada enxerguei. Só então, só depois: o tênue começo de um quanto como uma luz, que se nublava, aos poucos tentando-se em débil cintilação, radiância. Seu mínimo ondear comovia-me, ou já estaria contido em minha emoção? Que luzinha, aquela, que de mim se emitia, para deter-se acolá, refletida, surpresa? Se quiser, infira o senhor mesmo.

São coisas que se não devem entrever; pelo menos, além de um tanto. São outras coisas, conforme pude distinguir, muito mais tarde — por último — num espelho. Por aí, perdoe-me o detalhe, eu já amava — já aprendendo, isto seja, a conformidade e a alegria. E... Sim, vi, a mim mesmo, de novo, meu rosto, um rosto; não este, que o senhor razoavelmente me atribui. Mas o ainda-nem-rosto — quase delineado, apenas — mal emergindo, qual uma flor pelágica, de nascimento abissal... E era não mais que: rostinho de menino, de menos-que-menino, só. Só. Será que o senhor nunca compreenderá?

Devia ou não devia contar-lhe, por motivos de talvez. Do que digo, descubro, deduzo. Será, se? Apalpo o evidente? Tresbusco. Será este nosso desengonço e mundo o plano — intersecção de planos — onde se completam de fazer as almas?

Se sim, a “vida” consiste em experiência extrema e séria; sua técnica — ou pelo menos parte — exigindo o consciente alijamento, o despojamento, de tudo o que obstrui o crescer da alma, o que a atulha e soterra? Depois, o “salto mortale”... — digo-o, do jeito, não porque os acrobatas italianos o aviventaram, mas por precisarem de toque e timbre novos as comuns expressões, amortecidas... E o julgamento-problema, podendo sobrevir com a simples pergunta: — ”Você chegou a existir?

Sim? Mas, então, está irremediavelmente destruída a concepção de vivermos em agradável acaso, sem razão nenhuma, num vale de bobagens? Disse. Se me permite, espero, agora, sua opinião, mesma, do senhor, sobre tanto assunto. Solicito os reparos que se digne dar-me, a mim, servo do senhor, recente amigo, mas companheiro no amor da ciência, de seus transviados acertos e de seus esbarros titubeados. Sim?

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sexta-feira, 27 de junho de 2008


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"Perdido em detalhes de cores e beijos
Pronto pra me arrepender
Por viver nesse minuto
Que eu queria o tempo inteiro"

a menina dos olhos da cor dos cabelos, velhos e usados.

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quinta-feira, 19 de junho de 2008

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a dor dói porque escolhemos doer; você não precisa sentir só dor pra saber que ainda é capaz de sentir.

sinta amor.

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quarta-feira, 18 de junho de 2008

“Esteja alerta para a regra dos três. O que você dá, retornará para você. Essa lição você tem que aprender. Você só ganha o que você merece.”

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Silence, Portished.

A voz masculina que abre o novo CD do Portishead pertence a Claudio Campos, brasiliense, 34 anos, mora em Bristol na Inglaterra desde 2003 e é professor de capoeira;
nunca tinha ouvido sequer uma música do grupo e se surpreendeu ao descobrir que a frase gravada por ele também abre os shows durante a turnê européia que a banda tem feito.

Claudio ganhou 300 libras pela gravação, que durou apenas 20 minutos e não contou com a participação apenas da vocalista da banda,
Beth Gibbons. O convite surgiu através de uma amiga que sabia da intenção do Portishead. Antes, chegaram a cogitar um material em espanhol, mas o português foi escolhido porque o Brasil está na moda, justificaram ao capoerista que até comprou o CD para recordar da sua participação.

De qualquer forma, após mais de dez anos desde o último álbum lançado, o grupo surpreende com Third, talvez pela longa espera. É um grande CD, mas inevitavelmente, o In Rainbows do Radiohead ainda é melhor, desde a tática de lançamento que a banda usou até os discos de vinil produzidos.

Silence, Portishead - Live in Amsterdam.

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domingo, 15 de junho de 2008

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O amor é uma doença, mas não pode ser comparado ao câncer. Não na minha opinião. Agora, já à pneumonia, talvez.

No câncer, após a metástase a pessoa quase sempre morre, não tem escolhas nem esperanças.

Já na pneumonia existe uma cura, que geralmente vem acompanhada de um repouso muito bem-vindo. Contudo, recuperar-se não deixa de ser um processo doloroso, mas passa e ao final, é possível continuar a vida e perceber tudo o que fora enfrentado e sobrevivido, tentando-se evitar o mesmo sofrimento novamente.

É impossível impedir que a doença volte a atacar mesmo depois de muito tempo e, se todos as atenções forem voltadas à frustrada idéia de que se pode controlar o "ataque" de qualquer doença, o processo de viver vai se tornar angustiante e falho.

Se acontecer de novo, só resta aproveitar o repouso e buscar novas maneiras de cura, para que, agregadas aos antigos métodos, tornem a recuperação mais rápida e menos dolorosa.

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Quando o amor passa, se é que ele passa, sempre existe uma forma de seguir em frente e buscar rotas alternativas para continuar adiante, de volta à velha forma de ser ou acostumando-se com a nova personalidade que passou a existir.


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terça-feira, 10 de junho de 2008

INFJ (Introvertion, iNtuition, Feeling, Judgement)

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"Seu modo principal de viver é focado internamente, absorvendo fatos primariamente através da sua intuição. Seu modo secundário é externo, através do qual você lida com as coisas de acordo com a maneira com que você se sente quanto a elas, ou de acordo com a maneira com que elas se encaixam no seu sistema pessoal de valores.

Você é uma pessoa gentil, carinhosa, complexa e altamente intuitiva. Artístico e criativo, você vive num mundo de significados e de possibilidades ocultas. Apenas 1% da população mundial tem características de personalidade como a sua, fazendo dele o tipo mais raro de todos.

Você dá grande importância a ter as coisas organizadas e sistematizadas no seu mundo exterior. Você emprega um grande bocado de sua energia identificando o melhor sistema possível para fazer as coisas acontecerem e constantemente define e redefine as prioridades na sua vida. Por outro lado, você funciona intuitivamente e de maneira totalmente espontânea dentro do seu mundo interior. Você conhece as coisas através da intuição, sem ser capaz de explicar exatamente por que, e sem ter um conhecimento detalhado do assunto. E você está freqüentemente certo, e sabe quando esse é o caso. Conseqüentemente, você põe muita fé nos seus instintos e nas suas intuições. Isto é algo como um conflito entre seu mundo interno e externo, e possivelmente resultando em você não ser tão organizado quanto a maioria das pessoas que preferem uma vida estruturada. Isso se demonstraria através de sinais de desordem (quando na verdade você teria uma tendência a ter as coisas organizadas), como por exemplo, no caso de uma mesa de trabalho aparentemente bagunçada.

Você tem uma compreensão intuitiva afiadíssima sobre pessoas e situações. Assim, você tem aquele feeling sobre as pessoas, entendendo-as intuitivamente. Como um exemplo extremo, você pode até relatar eventos de ordem sobrenatural, como por exemplo, sentindo algo forte que te diz que houve algum problema uma pessoa amada, e vir a descobrir depois que ele sofreu um acidente de carro. Esse é o tipo de coisa que as outras pessoas podem vir a tirar sarro, mas nem você realmente compreende sua intuição num nível que possa ser transformado em palavras, para que você possa explicar isso aos outros. Conseqüentemente, você acaba escondendo seu “eu interior”, dividindo seus sentimentos apenas com aqueles que você escolher dividir. Você é um indivíduo complexo e profundo, é bastante reservado, e tipicamente difícil de compreender. Você esconde boa parte de suas intenções, e pode ficar guardando dentro de si diversos segredos que você poderá não compartilhar com ninguém.

Mas você é uma pessoa tão genuinamente calorosa quanto é complexa. As pessoas mais próximas a você te querem muito bem e podem enxergar suas qualidades especiais e a profundidade com que você se importa com elas. Assim, você se importa com os sentimentos das outras pessoas e tenta ser gentil, evitando magoá-los. Você é muito sensível a conflitos, e não os tolera com facilidade. Situações que são carregadas de conflito podem te levar do seu estado normal e pacífico para um estado de agitação e raiva elevada. Sob estresse você tende a internalizar os conflitos no seu corpo, podendo desenvolver problemas de saúde.

Por você ter capacidades intuitivas tão fortes, você crê acima de tudo em seus próprios instintos. Isso pode resultar em você se tornar um cabeça-dura e a ignorar as opiniões das outras pessoas, pois você acredita que você está sempre certo. Por outro lado, você é um perfeccionista que sempre se pergunta se está utilizando todo seu potencial. Você raramente está em paz completa consigo mesmo, pois sempre há algo que você pode fazer para evoluir ou para melhorar o mundo à sua volta. Você acredita em crescimento constante, e geralmente não passa tempo se lembrando das suas conquistas. Você tem um forte sistema de valores, e precisa viver sua vida de acordo com o que sente ser o correto. Com relação ao seu lado emocional, você é de certa maneira gentil e tranqüilo. Por outro lado, você tem altas expectativas de si mesmo, e freqüentemente da sua família, e você não acredita em entrar num acordo quanto aos seus ideais.

Você naturalmente cuida das pessoas, é paciente, zeloso e super-protetor. Você pode ser um ótimo pai/mãe e gostará de criar laços fortes com seus filhos. Você tem altas expectativas deles, e os pressionam para ser o melhor que puderem, e isso pode se manifestar através de atitudes duras e inflexíveis para com eles. Mas, de um modo geral, seus filhos receberão uma educação forte e sincera de você, juntamente de muito carinho.

No ambiente de trabalho, você é atraído por áreas onde você possa ser criativo e trabalhar de uma maneira independente. Você tem uma afinidade natural para a arte, e pode também obter sucesso trabalhando com as ciências, onde você poderá utilizar sua intuição. Você também se dará bem em profissões orientadas à prestação de serviços. Você não é bom em lidar com coisas muito detalhadas ou com tarefas muito delicadas. Assim, você provavelmente tentará evitar esses tipos de situação, ou acabar indo para o lado oposto e se envolver tanto com os detalhes até o ponto de você perder a grande visão do seu propósito com aquilo. Se você tomar o rumo de ser meticuloso com os detalhes, você pode se tornar altamente crítico com as outras pessoas que não são assim tão meticulosas quanto você.

Mas lembre-se: você tem qualidades que pouquíssimos têm. A vida, porém, não será necessariamente mais fácil para você, mas saiba que você é capaz de obter incríveis conquistas pessoais, guiado pelos seus sentimentos profundos."


http://www.inspiira.org/

Um teste de personalidade que finalmente deu certo comigo.

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segunda-feira, 9 de junho de 2008

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• 10 anos atrás...

1. eu mudei de casa;
2. assistia chiquititas;
3. eu era a mais alta da turma;
4. tinha franjinha e cabelo ondulado;
5. abri o portão de casa com um grampo de cabelo quando a chave tava perdida.

• 5 anos atrás...

1. eu mudei de casa;
2. cantei "infinita highway" numa apresentação da escola;
3. era bv;
4. media 1,63 e vestia 42-44 (!);
5. usava aparelho.

• 2 anos atrás...

1. eu mudei de casa;
2. saí do leo da vinci e fui pro notre dame;
3. era do fundão e conheci o ronald;
4. parei de roer as unhas;
5. perdi uma pessoa que amo de verdade.

• Ano passado...

1. eu mudei de casa;
2. era nerd da primeira fila e voltei pro fundão;
3. ajudei a organizar o melhor baile de formatura que a minha escola já viu;
4. fiz uma cirurgia que me impediu de viajar com os amigos pra porto seguro;
5. queria fazer letras na universidade.

• Ontem...

1. caminhei no eixão de manhã;
2. assisti 'happy feet' à tarde;
3. vi o pôr-do-sol do ponto urbano mais alto de brasília;
4. assisti 'um beijo roubado' à noite e iniciei bem a semana com uma ótima companhia;
5. senti muita votade de comer cheddar mcmelt e me senti muito mais culpada por isso.

• Hoje...

1. acordei mais cedo que o habitual;
2. fui pra escola dirigindo e não xinguei;
3. tive aula de processo penal (!);
4. conversei com a babi e com a jxu;
5. vou assistir filme daqui a pouco.

• Amanhã eu vou...

1. pra escola dirigindo e não vou xingar;
2. ter aula de direito constitucional (!);
3. começar a arrumar as coisas pra mudar de casa;
4. dormir à tarde;
5. estudar à noite.

• 5 coisas que não vivo sem...

1. família;
2. amigos;
3. música;
4. comida;
5. dormir.

• 5 coisas que compraria com 1.000 reais...

1. sapatos;
2. sapatos;
3. sapatos;
4. sapatos;
5. óculos.

• Maus hábitos...

1. chegar atrasada;
2. esquecer de ligar o celular;
3. deixar o computador ligado e o mozilla aberto o tempo todo;
4. não arrumar a bolsa;
5. beber água demais antes de dormir.

• 5 programas de TV...

1. sex and the city;
2. heroes;
3. gossip girl;
4. jogo do corinthians;
5. jornal.

• 5 coisas que me assustam...

1. escuro;
2. elevadores;
3. sensação de que não estou sozinha;
4. pedestre que entra na faixa de uma vez;
5. não conseguir realizar tudo que eu planejo.

• O que estou vestindo nesse momento...

1. pijama;
2. calcinha;
3. meia;
4. crocs.
5. -

• 5 bandas preferidas...

1. pearl jam;
2. gwen stefani;
3. rolling stones;
4. alicia keys;
5. joss stone e eu podia listar muitas outras, maaaas...

• O que realmente quero agora...

1. assistir o filme;
2. deitar;
3. calor sonoro;
4. beijos;
5. criar coragem pra terminar minha lista legal de constitucional.

• Lugares que quero ir nas férias...

1. sei lá,
2. mas quero que sejam legais.
3. -
4. -
5. -

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segunda-feira, 2 de junho de 2008

poema antigo para um amigo renovado.

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Insana é a vontade que tenho de dizer

coisas que sei que te farão sofrer.
Acreditas em mim?
Acreditarás?
Tento entender o porquê
mas fulmina em minha mente que tudo não passa de mentira.
Atrás das respostas, esqueço de perguntar o mais importante:
estás feliz?
Se sim, basta.
exorcisarei a vontade insana
para que descubras por si só, quando o tempo chegar.
Peço que não fique cego diante do seu tal amor
e que entenda: se não conto é porque eu te amo,
porque me importo, porque estavas comigo quando caí,
porque foi você quem aprimorou minha vontade de saltar
e quem me devolveu o desejo de voar.
Não espere que irei te abandonar,
dia após dia estarei contigo.
sei que fazes o teu melhor e se não for suficiente,
irás encontrar, na mais confusa melodia, o que te completa,
o que te faz recriar a primavera em pleno outono
o que te fará real, será, finalmente, um sentimento real.
Porque você merece.

(Agosto/2007)

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a história de ser uma proparoxítona.

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Se você não cabulou esta aula de gramática deve saber que todas as proparoxítonas são acentuadas, certo? Regra de acentuação básica que ninguém esquece. Então, alguém te contou o por quê delas serem acentuadas?

Porque além do que diz a regra básica (as antepenúltimas sílabas mais fortes são proparoxítonas, logo são acentuadas), elas são as palavras em menor quantidade na língua portuguesa! Sério, pode pesquisar. São minoria, são raras, não são iguais às outras palavras! Por isso recebem "de presente" o acento.

Agora coloca isso na vida: uma pessoa proparoxítona é uma pessoa rara, que não está encaixada na maioria da população! De presente recebe o acento, que na verdade são vários e podem ser todas as atitudes que tem, momentos, pessoas próximas, enfim, todos os presentes que recebe durante a vida.

EU sou uma proparoxíííííííííííííííííííííííííííííííííííííítona; cheia de acentos porque tenho tantos presentes!

E agora que você teve paciência para ler essa história, cabe só a você querer ser uma proparoxítona também ou ser uma paroxítona como a maioria da população ou uma oxítona que são aquelas pessoas que vivem no meio termo, sabe? Nem comuns, nem diferentes. Ao contrário das palavras, nós podemos mudar de classificação, apesar de algumas pessoas não desejarem isso.

(Junho/2007)

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análise bizarra que não sei da onde surgiu.

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Em 1963, Edward Lorenz analisou o "efeito borboleta". De forma figurada, a teoria diz que o simples bater de asas de uma borboleta pode causar um tufão do outro lado do mundo, pois esse ato provocaria uma influência no curso natural dos acontecimentos.

Jean-Pierre Jeunet dirigiu o filme "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" em 2001. No filme, após encontrar uma pequena caixa de recordações esquecida num esconderijo em seu próprio banheiro, Amélie decide encontrar o dono, que morara em seu apartamento na década de 50. Ela tinha a esperança de que ele ficaria feliz ao reencontrar as relíquias perdidas de sua infância. Quando percebe que fez algo de bom para alguém que nem conhecia, a jovem introvertida decide realizar pequenas obras para melhorar a vida das pessoas que ela convive de maneira indireta.

Amélie tem sua recompensa e finalmente se ent
rega rumo a um sentimento que jamais sentira: amor.

Não existe ligação direta entre a teoria e o filme, mas uma vez que Amélie sentiu que poderia fazer os outros felizes com suas idéias criativas e sua fértil imaginação, fruto de uma infância solitária, ela conseguiu melhorar a própria vida e correr riscos que lhe foram omitidos durante toda uma vida.

O que quero dizer é que, nem só através de movimentos caóticos podem se basear as hipóteses. E não é clichê acreditar que fazer o bem traz o bem. Talvez até seja, mas o simples bater de asas de uma borboleta pode trazer a chuva que faltava para ser realizada uma colheita, por exemplo.

Meu objetivo também não é desacreditar a teoria estudada por Lorenz, até porque eu nem entendo muita coisa de seus estudos; e sim, acreditar que uma simples contribuição para melhorar a vida de uma pessoa pode desencaear melhorias nas nossas próprias vidas e na de todos ao nosso redor.



  • Suzanne gosta de cheiro de bolo, frio, estrelas, conversas, risadas, dar nomes aos objetos, vento no rosto, escrever e de guarda-roupa arrumado.

  • Suzanne não gosta de sentir frio, chuva, brigas, perder suas coisas, arrumar o guarda-roupa, engordar, dias ociosos e de elevadores.
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sexta-feira, 30 de maio de 2008

o ciclista.

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Texto do início do ano, quando eu tinha as maiores dúvidas do mundo e agora, bom, agora eu desisti das dúvidas.


W5 sul: meu destino durante 1 ano e meio, agora não sei nem qual estrada eu vou pegar.

Sinto como se estivesse numa via completamente congestionada e impossível de se trafegar, além de não saber onde ela termina. Uma desordem completa e meu carro vai perdendo a gasolina lentamente, enquanto mantenho as mãos geladas no volante/câmbio, os pés cansados na embreagem, acelerador/freio e observo atentamente todos os movimentos ao meu redor.

Eu olho para o céu e vejo os aviões: livres, certeiros, "descomplicados" (mesmo com o caos aéreo, quando eles estão lá em cima tudo parece diferente). Seguindo um rumo que aparenta levar somente à felicidade nuvens adentro, em direção ao sol ou quem sabe, a uma cidade maravilhosa.

Passa por mim um motoqueiro louco e inconsequente, que corre contra o tempo e ultrapassa velozmente os carros parados para chegar aonde precisa sem medir esforços podendo custar-lhe a própria vida. Ele sente a adrenalina em seu sangue, sabe que está errado mas não tem escolha. Precisa chegar ao seu destino (pelo menos ele sabe qual é) antes do fim do prazo. Ele vai, sente-se vivo, eu fico.

Ah, mas o melhor mesmo é o ciclista! Que pedala lentamente na calçada a pouco mais de dois metros de mim! Ouvindo as melhores músicas em seu ipod, trabalhando seu corpo e sua mente, completamente distraído em seu caminho, mas sabendo exatamente aonde deve/quer chegar; sentindo a brisa fraca em seu rosto e iluminado pelos raios de sol que vão se esvaindo, carrega tudo que precisa em uma pequena mochila.

Eu o invejo.

Invejo o fato dele saber aonde vai, invejo o caminho dele estar livre e o meu não. Invejo todas as músicas que ele ouve, que com certeza são as que eu queria escutar e escutei outrora! Porém, são abafadas pelas buzinas que agora escuto vezenquando - não que fossem por minha causa (talvez até fossem e nunca vou descobrir).

Invejo sua distração porque ela não o impede de pedalar em ritmos alternados, sentindo a batida do seu coração - tumtumtumtum tum tum tumtum - elevando sua mente à um estágio subliminar; mantendo seu corpo são, cansado aos poucos mas firme, saudável - eu adoeço.

Invejo a brisa que ele sente porque meu carro está abafado mesmo com as janelas abertas: me sinto sufocar. Invejo sua pele bronzeada pelos raios de sol! Ah, os raios de sol... - minha pele apática e opaca não os sentem há mais tempo do que podia imaginar.

Invejo tudo que ele carrega em sua mochila e a própria! Porque meu carro está uma bagunça, cheio de tralhas desnecessárias e não consigo encontrar nada além daquilo que não quero mais e não posso arremessar janela à fora: minha dor, minha solidão, meu sedentarismo, minha insônia, minha amargura, minha saudade, meu medo, meu fingimento, minha inveja e principalmente, minha covardia.

Covardia porque apesar de invejar tanto o ciclista, não sei se consigo ter coragem para desviar minha rota, parar numa loja e comprar uma bicicleta! Há muito não pedalo e tenho medo de cair, ralar os joelhos como aos seis anos de idade, quando sorridente e despreocupada, descia a rua pelas primeiras vezes sozinha e sem as duas pequenas rodinhas - antes eu era corajosa, agora... e agora?

O ciclista está se distanciando nesse instante, sua simplicidade me parece complexa e longe, algo praticamente inatingível para alguém como eu.

Ao vê-lo partir, sinto que ainda tenho a esperança miúda, quente e irradiante de que um dia, não tarde demais, eu poderei me locomover como ele seja em uma bicicleta, numa moto, num avião ou mesmo aqui, no meu carro.

Respiro, piso na embreagem, engato a primeira, acelero, freio, paro. Continuo parada no congestionamento da minha vida.

Eu quero e preciso ser como o ciclista.

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quinta-feira, 29 de maio de 2008

terceira pessoa do singular.

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Ela
não tem muito a dizer; diferente de alguns anos atrás, quando acreditava que sabia de tudo e falava demais. Hoje, o tudo virou nada e tudo que ela sabe é que não pode mais ficar parada, esperando tudo acontecer.

Seus sonhos mudaram, para melhor ou pior talvez, ainda não dá pra saber pois são sonhos, quiçá irão se realizar. Mas ela se esforça... É persistente e eu gosto disso nela.

Ela não gosta de covardia, apesar de ser bem covarde às vezes. E sabe disso, mas tem medo de não poder estar à altura de suas próprias expectativas. Tornou-se insuportável depois de tantas exigências alheias e hoje, decide por si só, mas ainda sofre bastante influências, o que não é tão ruim para uma pessoa fria como ela, já que sabe distinguir os conselhos que recebe.

Antiquada, nem parece que vive em pleno século XXI.
Moderna, nem parece que adoraria viver na década de cinqüenta.

Continua insistindo em mudar de ares, mas não entende que seus problemas não são geográficos e que de nada vai adiantar fugir para as ilhas Fiji. Ela não vai sobreviver muito tempo adiando tudo que já deveria ter sido solucionado.

Demora a se entregar, não importa o quanto tente. É fria, já disse, mas quando se entrega, vai até o fim. É persistente, já disse. E diz o que lhe vem à cabeça se for preciso; saber ser espontânea não significa que ela é uma porra louca e não se importa com o que vão pensar. Sabe se calar e ouvir.

É, fácil fazê-la sorrir agora.
E ela te fazer sorrir, também conta as piores piadas, você vai rir da cara dela, da risada dela, mas quase nunca da piada.
É fácil fazê-la chorar, sempre foi, mas ela segura. É orgulhosa e detesta demonstrar fraqueza.
E ela te faz chorar, principalmente se você estiver chorando sem motivo, ela encontra um se for necessário.

Precisa do seu próprio tempo, detesta ser apressada. Demorou dez horas para nascer e ainda fora forçada a isso através de uma cesariana. Filha do meio do pai, primogênita da mãe, seria o ideal de garota-problema, mas ela não é assim. Doce e amarga, distinta para qualquer paladar.

Sabe que se tiver a oportunidade, vai te cativar.

Ela sempre se pergunta de quê é feita: de idéias, sonhos, atitudes, lembranças, loucuras. Talvez de tudo um pouco, mas não encontrou a resposta ainda.

Quem é ela? É diferente de você e, por várias vezes, indiferente com você. Minha própria personagem, protagonista da minha vida, aquela que criei e que um dia pode parar de contracenar. Pode... ?

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